Expedição reúne cientistas e povos originários na tríplice fronteira
Publicado em 02/06/2025 09:33
Turismo & Meio Ambiente

Com mais de 2,8 mil espécies, estudo reúne cientistas e povos originários na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru

 

Cientistas de cinco países e especialistas indígenas uniram esforços e conhecimentos para inventariar animais, plantas, saberes e vivências do Alto Rio Içá, região no extremo oeste do Amazonas que integra a bacia Putumayo-Içá e abrange Brasil, Colômbia, Peru e Equador. A região possui alta diversidade de espécies e conservação excelente. Nos últimos anos sofre ameaças de garimpo, extração de madeira e tráfico de animais que podem colocar a perder a biodiversidade e os modos de vida dos povos originários.

 

Os resultados da expedição chamada Inventário Rápido Biológico e Social nº 33 realizada pelo Field Museum of Natural History de Chicago (EUA) em estreita parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e outras instituições durante 20 dias de maio foram apresentados em Seminário na quarta-feira (28), no Inpa, em Manaus. O Alto Rio Içá compreende uma área de 463,8 mil hectares de florestas públicas não destinadas ao longo do rio Içá e onde vivem muitas comunidades indígenas.

 

No Seminário, os pesquisadores apontaram a necessidade de ações integradas de conservação e preservação imediatas com o reconhecimento do território como Terra Indígena. A expectativa é que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) inicie em breve o processo e que os dados do inventário subsidiem o processo de reconhecimento. A área solicitada vai do Lago do Corrêa até a fronteira com Colômbia e Peru, onde moram povos como os witoto, kaixana, kokama e tikuna.

 

Conforme o levantamento botânico do inventário, a região do Alto Rio Içá é formada por cerca de 80% de florestas de terra firme e quase 20% de áreas alagáveis (várzeas e igapós) e menos de 1% de campinarana, um ecossistema amazônico também de área alagável, mas com solos arenosos e pobres em nutrientes, revelando a importância estratégica para a conservação da biodiversidade.

 

Envolvidos

O inventário ocorreu em seis comunidades indígenas e envolveu 71 pessoas, entre cientistas de dez instituições de cinco países diferentes e especialistas indígenas Kokama, Tikuna e Kambeba. Para a pesquisadora do Inpa e coordenadora brasileira da expedição, a bióloga Fernanda Werneck, o inventário deve representar um marco para a ciência brasileira, para as parcerias institucionais com as comunidades tradicionais e para a valorização da sociobiodiversidade da região.

 

“A expedição ter transcorrido com sucesso é o nosso principal resultado, dada toda a logística envolvida, mas todos tinham o mesmo objetivo que é entender de maneira colaborativa a diversidade biológica, cultural e social da região em prol de uma causa comum que é preservar o alto Rio Içá e os modos de vida e o território dos povos tradicionais. Além do estreitamento da parceria social-biológica entre as instituições e com as comunidades tradicionais pela proteção da Amazônia”, destaca Werneck.

 

A expedição registrou mais de 2.800 espécies, entre coletas, fotografias e captações de som, alguns são registros novos para o Brasil, entre eles o passarinho formigueiro-de-Pelzeln, que não tinha nome popular e os cientistas aproveitaram para chamar a ave de formigueiro-do-Içá. Os cientistas já apontam uma quantidade significativa de espécies novas para a ciência, algumas conhecidas pelos indígenas. Entre as descobertas estão dez potenciais espécies novas de peixes, como um tetra Pristella que é um peixinho de uso ornamental, e dez de anfíbios, incluindo pererecas e salamandras.

 

Chama atenção também a riqueza de recursos da biodiversidade utilizada pelos povos originários para várias finalidades, totalizando mais de 400 espécies identificadas pelos nomes populares (etnoespécies). Delas, 135 plantas e 177 animais são utilizados na alimentação, aproximadamente 80 espécies na construção, medicinas entre outros usos. O inventário identificou uma longa história de uso e ocupação do território, do saber ancestral vivo, riquíssimo e visível na continuidade e formas de morar e se relacionar no território e nas redes de relações.

 

Foram apresentados os resultados iniciais em dez áreas biológicas e sociais da expedição: geologia, botânica, ictiologia (peixe), herpetologia (anfíbios e répteis), aves, mastozoologia (mamíferos), história socioambiental, etnoconhecimento, uso de recursos naturais e governança e conflitos socioambientais. As coletas vão enriquecer os acervos do Programa de Coleções Científicas Biológicas do Inpa.

 

(Foto: Fernando Lessa / Museum Field)

Fonte: acritica.com

 

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